Após sofrer preconceito, cabeleireira negra cria salão especializado em cabelos crespos: 'Empoderamento'
20/11/2024
Atualmente, o salão de Janaína Melo oferece cursos voltados à especialização de tratamento de cabelos afros. Após sofrer preconceito, cabeleireira negra cria salão especializado em cabelos crespos: 'Melhor coisa da minha vida'
Arquivo pessoal
Há quase duas décadas, a cabeleireira Janaína Melo resolveu empreender e abrir um salão voltado para as pessoas negras em São José dos Campos, no interior de São Paulo -- e foi a partir de preconceitos sofridos ao longo da vida que ela decidiu se dedicar a esse tipo de trabalho.
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Ao g1, a empresária contou que na época da adolescência não se sentia bem em salões de beleza que não sabiam lidar com seu cabelo e explicou que esse foi o principal motivo para a abertura do Dandara Soul, seu salão de beleza.
“[Abri o salão] por ser uma mulher preta (na época uma adolescente) e sem referência de cuidados e tratamento específico para o meu cabelo e para outras meninas e mulheres que têm cabelo crespo e cacheado”, disse ela.
“Mas principalmente por não me sentir bem em salões que não sabiam lidar com meu cabelo, com a desculpa de que é difícil, duro, ressecado, armado, emaranhado, enfim, vários e vários comentários que não ajudam em nada”, completou.
Após sofrer preconceito, cabeleireira negra cria salão especializado em cabelos crespos: 'Melhor coisa da minha vida'
Arquivo pessoal
Segundo ela, o objetivo era mostrar que todo esse estereótipo estava errado e que as pessoas negras também consomem produtos de beleza.
“Quis mostrar que não é nada disso e que pessoas pretas consomem cosméticos e que cabelo crespo não é ruim, só é diferente, assim como minha pele e meus traços”, disse.
A jornada de 17 anos atuando no Dandara é considerada por Janaína “a melhor coisa da vida”. De acordo com a cabeleireira, no salão não há espaço para preconceitos.
“[Foi] a melhor coisa da minha vida. Aqui no meu espaço não há apelidos e nem desconforto com minhas clientes, pois elas se sentem em casa, podem ser quem elas nasceram para ser: simplesmente seres humanos, como outro qualquer com suas características particulares, que pessoas brancas ainda hoje insistem e assim contaminam a mente de que ser preto é ruim, feio e que nada na gente tem beleza ou criatividade e cultura”.
No salão, além de Janaína, também trabalha boa parte de sua família, como, por exemplo, sua irmã e sobrinho, que também são cabeleireiros. Além do tratamento em cabelo de pessoas negras, o salão também passou a ofertar cursos para especializar pessoas em cuidar da beleza dos negros.
“Os cursos surgiram mesmo da necessidade da demanda. Os produtos e serviços no mercado foram impactando, porque as mulheres pretas começaram, de uns 15 anos para cá, a perceber que podiam ser quem elas são. Então, a demanda de aprender a lidar com esse tipo de cabelo, de fazer tranças, de saber como que se desenha, saber a história, foi aumentando. E foi assim que a gente foi inserindo esses trabalhos no mercado”, contou.
Após sofrer preconceito, cabeleireira negra cria salão especializado em cabelos crespos: 'Melhor coisa da minha vida'
Arquivo pessoal
Ela explicou que já sofreu racismo e que, atualmente, é difícil não encontrar pessoas negras que não tenham passado pela mesma situação.
“Vivendo em um país com racismo velado, é difícil não passar por inúmeras situações, desde as mínimas até as mais escancaradas. Pode haver pretos que digam que nunca passaram, mas aí pode ser o olhar da situação. Assim como tem brancos que naturalizam o preconceito e racismo, há também os pretos”, disse.
Ela também lamentou que, apesar do crescimento da valorização da cultura afro no mercado, ainda tem muita coisa a ser mudada.
“O capitalismo nunca perdeu a oportunidade e o empoderamento das pretas trouxe mais potencial para o mercado da beleza em vários segmentos. O que me incomoda é que as ideias partem da gente, mas a riqueza continua nas mãos do colonizador”, finalizou.
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